quinta-feira, 2 de julho de 2009

DEFENDENDO MEU PERSONAGEM: NIKI LAUDA, O PERFIL





Ontem eu coloquei aqui um pequeno post, no qual me referi a um de meus pilotos favoritos de todos os tempos, Niki Lauda. Muitos não o viram correr, sabem apenas que foi um multi campeão, que sofreu um acidente gravíssimo e que tem uma empresa aérea. Bom, deixa eu tentar explicar de forma subjetiva (meu ponto de vista) e objetiva ( dados, números) o homem Andreas Nikolaus Lauda.
Neto de um espanhol da Galícia que se radicou na Austria, Lauda vem de uma rica e aristocrática família de vienenses. Um adolescente rico numa sociedade afluente, péssimo aluno procurando algum sentido na vida, tropeçou no automobilismo meio sem querer, conforme narra em seu livro autobiográfico " To hell and back". Seu avô tinha uma enorme mansão com criados em Viena, propriedades em diversos outros lugares, inclusive uma em Saint Moritz (point dos ricos de verdade). Sua presença intimidava nosso jovem Niki, e uma de suas mais notáveis características era o ódio que nutria aos socialistas. Um dia aos doze anos de idade, Niki assistiu ao seu avô recebendo uma comenda de uma autoridade austríaca na TV, um político socialista. Sem entender bem o porque daquilo, nosso herói escreveu uma carta ao avô demandando explicações. Quando se encontram pessoalmente pela primeira vez, o velho tirou a carta do bolso e leu palavra por palavra, linha por linha, dando um tremendo esculacho no pequeno e insolente neto. A partir desse dia Niki, revoltado, decidiu ser diferente e seguir seu próprio caminho na vida, buscando mais consistência e coerência entre palavras e ações.
Sempre gostou de carros e brincava com velhos fuscas e outros calhambeques. Começou a correr num Mini em provas de subida de montanha, e nessa época, Jochen Rindt, um austríaco, tornou-se um ídolo na Áustria. O ídolo de Lauda no entanto, era Jim Clark, ele alega não se identificar com a pessoa de Rindt. Quando Clark morreu ele ficou arrasado. Começou a correr de Formula 3, batendo mais que terminando as corridas e viajando pela Europa como um cigano. Num determinado momento, fez um empréstimo bancário para poder competir na Formula 2, na equipe March. Estreou pela mesmo no Grande Prêmio da Àustria de Formula 1 em Zeltweg em 1971. Assinou com a equipe para 1972, e corria também pela BMW no campeonato europeu de carros esporte. Seus prêmios iam direto para pagar o posto na equipe March. Me lembro de quando ele estreou e em particular seu primeiro ano, 1972, importante para nós brasileiros, pois foi o ano do primeiro título de Emerson. Lauda era muito mais lento que Peterson, mas os carros da March naquela temporada eram uma bomba. Uma passagem interessante é quando ele testa o March 721X pela primeira vez, modelo derivado do Formula 2, e diz a equipe que o carro é muito ruim. O primeiro piloto Peterson não concordou e toda a equipe passou a duvidar de Lauda, mas quando o carro realmente se mostrou uma bomba, este decidiu confiar mais em si mesmo e em suas qualidades técnicas. No final daquele ano ele estava falido e usou de um artifício para conseguir um lugar na equipe BRM, já decadente: mentiu a Louis Stanley, que teria o patrocínio de um importante banco aústriaco. Comecou a temporada e foi melhorando, a ponto de Stanley perdoar-lhe pela mentira, quando descobriu, e conseguiu terminar o ano. Só que para 1974, foi convidado pelo Comendadore Ferrari para ser companheiro do suiço Regazzoni que regressava a Ferrari, após um ano traumático na BRM. Por indicação de Regazzoni conseguiu seu lugar na Ferrari e já em sua estréia conseguiu um segundo lugar. Venceu duas corridas naquela temporada e terminou em quarto no campeonato, novamente vencido por Emerson, agora de Mclaren. Em 1975 Lauda não deu chances aos seus adversários, vencendo o título pela primeira vez e recuperando a Ferrari após anos de ostracismo.
Mas o grande teste de caráter viria no ano de 1976. Lauda caminhava tranquilo para seu bi campeonato até que um gravíssimo acidente em Nurburgring durante a realização do GP da Alemanha, quase o matou. Queimou-se gravemente, chegou a receber a extrema unção no hospital, mas recuperou-se, e apesar do rosto terrivelmente queimado, voltou a pilotar apenas seis semanas após o acidente, mesmo com dores terríveis. Chegando à última etapa do campeonato no Japão, Lauda decide abandonar a corrida embaixo de uma chuva terrível, dando mais valor à própria vida do que a um segundo título que era quase certo. Com isso, James Hunt ultrapassou-o na contagem dos pontos e sagrou-se campeão. Lauda foi massacrado pela imprensa italiana, mas não se deixou abalar, e venceu com sobras o título de 1977.
Decidiu sair da Ferrari e assinou com a Brabham de Bernie Ecclestone por uma fortuna. Em 1978 a Lotus com Andretti e Peterson e seu incrível Lotus 78 não tinham adversários. Até que a genialidade de Gordon Murray, projetista da Brabham produzisse o "Fan Car" - carro ventilador, com o qual Lauda destruiu a oposição no GP da Suécia. O carro foi prontamente proibido. Para a temporada de 1979 um desmotivado Lauda ainda teve que enfrentar um jovem e audacioso companheiro de equipe, um certo Nelson Piquet. O ano foi ruim, os carros eram velozes mas quebravam muito, e antes do final do ano, Lauda decidiu abandonar as corridas de vez. Isso foi um choque na época, pois ele fez tudo do jeito Lauda de agir: sem alarde, sem emoções, apenas foi embora.
Montou uma empresa aérea, Lauda Air, que foi vítima de várias manobras de outras companhias para desestabilizá-lo, e após alguns anos como empresário, foi tentado a abandonar a aposentadoria e voltar a competir pela Mclarem por um contrato milionário. Voltou, venceu o título em 1984 contra um jovem e motivadíssimo Prost e no final de 1985, abandonou novamente. Sua inteligência superior sobressai-se no livro, seu relato é minucioso e muito cerebral. Calculista, sabia manobrar as circunstâncias a seu favor e sempre desestabilizar seus adversários com o poder de seu intelecto diferenciado. Nunca o achei arrogante, e sim um verdadeiro campeão. Hoje, administra sua segunda empresa aérea, Niki Air, viaja pelo mundo e com certeza analisa muito bem o estado de coisas na Formula 1, onde aliás voltou brevemente como chefe da equipe Jaguar no começo desta década.
Grande Niki Lauda. Separado, com dois filhos adultos, recém casou-se e sua esposa está grávida . Isso aos 60 anos! Sucesso deve ser mesmo afrodisíaco!


4 comentários:

Paula Peixoto disse...

Amigo Cezar, continuo com a mesma opiniao em relacao a Niki.

Segundo o que li por ai, parece que esta actual esposa, que trabalhava na sua companhia aerea, lhe deu um rim e depois casaram.

Bem lá está, e comentando a sua ultima frase do texto, é o dinheiro faz muita coisa...a senhora ficou bem de vida...enfim sao escolhas.

abraço Paula Peixoto

Ron Groo disse...

Embora seu texto esteja ótimo nem carecia defende-lo.

Dentro das pistas que é onde devemos avaliar o Niki Lauda ele éra perfeito.

Fora é problema dos próximos a ele...

Pé de Chumbo disse...

Paula, a esposa deu primeiro o rim ou o resto?
Cesar, que o Niki é inteligente, ninguém duvída:
Acabou de renovar a frota com aviões Embraer...

Paula Peixoto disse...

Pé de chumbo, o que foi primeiro nao sei :)